O texto vem com o propósito de estimular o pensamento crítico a respeito da influência do contexto histórico, social e político na arte e no design. Indaga de maneira sutil a desvalorização da Arte no mundo contemporâneo em favorecimento da profissão Design, evocando a participação do sentimento humano. Em todo o seu decorrer não aponta para uma verdade absoluta e sim no incentivo a reflexão.
Não querendo impor uma verdade absoluta a respeito do que venha a ser Arte e Design e suas inter-relações, questão está já tão discutida e debatida, apresento nesse texto comparações, ligações, e fatos que ajudam a elucidar a mente do leitor sobre idéia suscitada, para que ele próprio, junto aos seus conhecimentos, reflita e tire as suas próprias conclusões.
Partindo do período de onde acreditam a grande maioria ter nascido à profissão Design, acredita sim que este despertou com a proposta de suprir além das necessidades da Revolução Industrial, a manutenção e a expectativa de como ficaria a arte diante das mudanças e reviravoltas mecânicas.
Se formos parar para analisar, no Art Nouveau, começa a existir a idéia de design atrelada com a arte, devido à oposição que esse movimento fez com a Era industrial. Oposição não no sentido de ressaltar o artesanal, como idealizava William Morris, mas de dar as formas que faltavam nas estruturas esterilizadas e antiestéticas que os produtos fabricados pelas máquinas produziam. Sendo assim, sofre uma forte influência das artes aplicadas e trabalhadas em materiais que condiziam com os produzidos nas grandes indústrias, tais como o ferro e o vidro, alicerçando as bases para a idéia do profissional de design.
Percorrendo um pouco na História da Arte, poderemos perceber que esta, também como o design, serviu a uma necessidade do homem, atrelada sempre as questões políticas, sociais, culturais e financeiras. O design surge nos tempos primitivos assim como a arte e tem sua importância em destaque, quando existe um poder maior, que faz dela uma ferramenta para um determinado fim ou interesse.
O conceito de arte está completamente ligado ao mundo em que o homem vivia, tempos em que não estamos dando conta que se acabou e que pode ser analisado por essa passagem da arte para o design. O homem se apropriou da arte quando sabia que através desta podia envolver, revelar ou até mesmo impor algum tipo de pensamento em outrem e é exatamente isso que o design faz agora. Não existe mais espaço na vida do homem para a arte. Ele está deixando de apreciar o belo sentimental, a sensibilidade do natural, para aderir ao belo funcional, ágil, mecânico e tecnológico e como peça chave disso está o design - o redescobrimos, pois dele agora necessitamos; iremos nos apropriar desse novo mecanismo para atender as expectativas do mundo industrial, capitalista e dos novos ideais tecnológicos.
É possível que a crise existente hoje nas Belas Artes venha daí. Não se sabe mais o que é arte, quem realmente faz arte, se instalações é arte, se arte contemporânea é “arte”...
O estudo da arte e do design dentro da trajetória da história da humanidade, ao meu ver, jamais pode ser visto de forma separada, mesmo que cada um tenha suas características, objetivos e finalidades diferenciadas. É como se estivesse estudando em linhagem contínua, recebendo apenas os reflexos comportamentais da sociedade vigente em cada época.
Logicamente que para maior aprofundamento no assunto, Arte/Design, se faria necessário um estudo separado, mas para que se entenda o processo e os motivos que se tem hoje a respeito desses dois objetos de estudo é preciso olhá-los horizontalmente, e é importante que os alunos tenham essa noção e entendam o quanto eles permanecem o tempo todo interligados.
Feita essa análise é possível ver claramente a situação atual e até mesmo levantar hipóteses a respeito de como se encaminhará, no decorrer do século XXI, essas duas manifestações. É certo que hoje o design se constitui bastante relevante na vida das pessoas, mesmo que a grande maioria não perceba, e o que também não é diferente da arte. O grande problema é que aos poucos, o design, produto dos novos tempos, está tomando em certa medida, o lugar que antes era ocupado às belas artes. Duas coisas podem ocorrer: uma grande manifestação por parte dessa em repúdio ao design, onde ocorrerá a retomada dos valores artísticos ou o paulatino falecimento da arte em favor do design que continuará a se consolidar trazendo diferentes bifurcações no decorrer dos tempos – o mesmo que aconteceu nas artes. Digo isso, pois os valores de ambos já se encontraram, hoje já existem peças de design que tem significância de uma verdadeira obra-de-arte. Da mesma forma que as obras feitas hoje, já não tem o valor das desenvolvidas no impressionismo, por exemplo, considerado o ultimo movimento artístico com mais relevada importância. O que pode ser notado como um marco, pois este antecede a Era industrial e o Art Nouveau.
Estudar, observar e refletir sobre essas questões, analisando-a como um conjunto e não como parte isolada, faz nos sentir vivos e como protagonistas dessa densa história. Como designers somos o fruto de uma nova geração e é dessa forma, assumindo toda a responsabilidade do que como profissionais produzimos, que temos que adotar o nosso ofício, pois amanhã seremos cobrados e responsabilizados por nossas contribuições porque afinal de contas, fazemos parte desse processo.