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O Design Inserido no Planejamento Estratégico das Empresas.


Por: Ornaldo José

Uma imagem corporativa bem construída deve transmitir uma mensagem única, tornando visível o posicionamento da empresa e transmitindo conceitos ligados a ela. Nesse sentido o design gráfico assume uma importante função, uma vez que ele é uma das ferramentas responsáveis pela construção de uma imagem corporativa forte através de um programa de identidade corporativa eficaz e também por toda a concepção visual dos valores da empresa.s
É neste contexto que surge uma questão importante a ser discutida, a respeito da importância de se integrar a ferramenta design gráfico ao planejamento estratégico de uma empresa, para que ela usufrua deste diferencial da melhor maneira possível, visando otimizar seus resultados mercadológicos.
FERNANDES (2003) define planejamento estratégico como sendo “o conjunto de ações desenvolvido de forma consciente e coordenada visando, a longo prazo, colocar a empresa em vantagem perante seus concorrentes”.
Neste sentido, o processo de planejamento estratégico de uma empresa deve envolver todos os seus setores, buscando não apenas atuar sobre sua imagem corporativa, mas também sobre a qualidade de seus produtos e serviços ofertados ao mercado. Assim, é importante integrar o design gráfico neste contexto, pois, como observa MAGALHÃES (1995), o processo de design deve ser capaz de definir requisitos do produto (bem ou serviço) a partir de dados originados de um contexto mais amplo, em que o design se insere. 
Mais especificamente, o processo de design gráfico está presente em todas as atividades industriais necessárias para se produzir e vender um produto ou serviço. 
O design gráfico destaca o consumidor, o usuário e a própria sociedade como seus beneficiários, buscando equilibrar as necessidades do mercado, a capacidade de produção e a sociedade.
Dessa forma sendo o design gráfico uma atividade multidisciplinar que se correlaciona com outras áreas de fundamental importância no planejamento estratégico de uma empresa, é importante que ele esteja presente em toda a etapa de concepção e desenvolvimento de projetos de design gráfico, como por exemplo a identidade corporativa, e não somente em seus momentos finais.
Conforme teoriza o designer americano ROBERT BLAICH (1996), o design passa a atuar, dentro desse sistema complexo e altamente multidisciplinar, como um elemento de integração, uma ponte que liga e traduz diversas linguagens (que são as diversas áreas de conhecimento envolvidas), em uma só: qualidade final do projeto e a satisfação do cliente.
Do contrário, o resultado será uma comunicação superficial e descontinuada, cumprindo apenas a sua função visual de ser agradável aos olhos, mas esquecendo-se do principal, que é transmitir mensagens de maneira eficiente e gerar valor aos consumidores.

autor: Ornaldo José


O Design e o Sucesso

É o design fator primordial de sucesso?

Um dos principais argumentos contra a disseminação e valorização do design no amplo universo empresarial, reside no fato que o mercado está cheio de exemplos de grandes e conceituadas empresas que se fazem utilizar de design de fraca qualidade.
Este, é assim, o argumento de peso contra o design, pois se a empresa é grande, conceituada e utiliza design de qualidade duvidosa, então o design não é um fator primordial de sucesso.?!

O design não é um fator primordial, assim como o trabalho árduo não o é, da mesma forma que a competência também não o é, pois vejamos; existe tanta gente que não trabalha duro e tem sucesso, existe tanta gente incompetente que o tem. Na verdade, o design, só é fator primordial de sucesso para a empresa que presta serviços de Design, para todas as outras, é apenas mais um fator preponderante, da mesma forma que um bom panejamento fiscal, ou uma boa gestão financeira o é, ou da mesma forma que uma equipe de vendas bem estruturada e dirigida é. Temos assim, que o design não é um fator primordial mas sim um fator preponderante.
Resta agora ponderar sobre o peso e impacto que cada um dos fatores preponderantes de sucesso que tocam o exercício de uma atividade, devem ser alvo de atenção e investimento, e aqui entra a estratégia e o posicionamento que cada empresa adota e quer implementar em função do mercado e concorrência.
Assim, estaremos a falar de marketing, ao determinar o posicionamento e as vantagens competitivas da empresa, e se no decorrer deste processo se sentir que existe necessidade de comunicar com o mercado alvo, melhor a apresentação do produto, criar informação sobre o produto, mudar a "cara" da empresa, então estamos com toda a certeza a falar de design, enquanto instrumento de comunicação, e se o objetivo é comunicar então isso terá de acontecer de forma eficaz, ou seja; com bom design.

Traçando um paralelo entre a atitude empresarial que premeia a contratação de serviços de design de qualidade duvidosa e as atitudes de gestão comercial por parte dos mesmos empresários, não será difícil encontrarmos o seguinte cenário; a empresa tem um grande contrato que está sendo negociado, quem é que geralmente esta envolvido nesse processo; obviamente os principais diretores ou até o presidente da empresa, ou seja, a empresa está deslocando esforços efetivos mediante a definição clara e objetiva de uma possibilidade de negócio!!!! Nada de mais? tudo de mais!!!!
Especialmente quando isto define uma forma de estar e padrão gerencial de só tratar com a devida importancia as oprtunidades que de facto dessa forma se apresentam, clara e inequivocamente, agindo relativamente a todo o resto com a displiscencia quotidiana, que permeia por exemplo a contratação de um qualquer vendedor, pelo menor custo, para visitar potenciais clientes, da mesma forma que se contrata um qualquer design para se comunicar com potenciais clientes, mais uma vez a empresa só se aplica quando vislumbra uma possibilidade de negócio efetiva, tomando como modelo de atuação uma inconsequente inversão de papeis, no que toca ao comportamento de clientes e vendedores em mercados.
Isto talves possa ser explicado pela falta de crença no negócio, partindo do pressuposto que o problema está no mercado, na economia, enfim, o problema está sempre fora da empresa, quando o problema está justamente na empresa, pois em se tratando de uma atividade econômica enquadrada num setor de atividade mais ou menos bem definido, para uns estarem faturando menos existirão outros faturando mais, sendo assim o problema não será conjuntural e externo, mas estrutural e interno.

Mesmo quando se tratam de setores de atividade, em que a oferta claramente suplanta a demanda, encontramos empresas que mantêm índices de crescimento sustentado, ou seja empresas que vivênciam o mesmo mercado e se mantêm em crescimento, justamente porque a procura se movimenta para a melhor oferta global, e hoje cada vez mais se procura valor agregado, valor global de negócio, que extravasa a "unidade" de produto ou serviço vendido.

O design, não é a única solução, mas com toda a certeza fará parte da solução de uma empresa responsável com a atitude e visão estratégica, mas acima de tudo com crença no que pode oferecer ao mercado, ou seja, consciente do seu papel e espaço no mercado, preocupada em crescer. Não fará sentido desenvolver esforços e acreditar em sucesso pleno, sem considerar o design, como elemento primordial de definição de personalidade, de forma de estar e ser percebido no mundo empresarial.

O design é assim uma variavél de sucesso, que é tão ou mais importante em função das outras variavés que compoêm a equação e assim definem o tamanho e a imporatncia de um negócio, como um todo.

Um design bem resolvido!

Uma das coisas que você irá perceber em um Manual de Identidade Visual é a forma cuidadosa com que cada projeto deve ser tratado.
Da criação à produção gráfica, tudo é feito com rigor e esmero.
Peças limpas e atraentes de grande impacto visual e excelente poder de comunicação que "conversam" na língua do seu público.
São logotipos, catálogos, folders, ilustrações, projetos editoriais, enfim, o que você imaginar.Mas com a assinatura de quem sabe que sempre tem um jeito de fazer melhor.
Um boa imagem venderá muito bem o seu produto ou serviço.

Autor: Ornaldo José

As Regionalidades do Design

Por Paulo Oliva

O termo regionalidade é utilizado neste texto para qualificar as ações que resultam do esforço conjunto de todas as áreas produtivas que visam destacar, desenvolver e difundir as habilidades e características de uma região, procurando torná-la um centro de referência.
Essas ações necessitam de pesquisas qualitativas, de novas tecnologias adaptadas às suas realidades, de matérias primas alternativas e de metodologias apropriadas aos processos de produção, que dinamizem as atividades e habilitações locais, sem alterá-las em sua essência. Dessa forma, o designer que estiver comprometido com a cultura regional e com esses processos produtivos terá um papel importante no seu desenvolvimento, pois, além da formação acadêmica e do conhecimento técnico, conseguirá fazer com que suas contribuições sejam mais facilmente compreendidas por todos os envolvidos.
Por outro lado, o desenvolvimento pode ser entendido como um processo de potencialização das oportunidades e características existentes em cada território.
Em face das diferenças geográficas, econômicas, sociais e culturais existentes, em especial aquelas referentes à atividade do Design, percebe-se uma participação considerável de profissionais comprometidos com suas regiões, não só contribuindo, efetivamente, na formulação de políticas que visem destacar e valorizar a produção e os produtos, como também contemplando, em seus projetos, as influências culturais e especificidades da região onde estão inseridos.

Motivado pela necessidade de discutir questões relativas ao desenvolvimento descentralizado e a identidade da produção regional, foi criado, em novembro de 1996, o Programa Brasileiro de Design - PBD. A iniciativa envolveu alguns conjuntos de autoridades governamentais, empresários, representantes dos segmentos da sociedade civil, instituições acadêmicas, profissionais de Design e outras áreas afins e teve como objetivo qualificar a exportação nacional, mais propriamente, o produto brasileiro, visando torná-lo mais competitivo.
Como conseqüência, sua criação suscitou o surgimento, em quase todo o país, de Programas Estaduais de Design. Dentro dessa perspectiva, os programas foram catalisadores de conversas e de ações e promoveu discussões em diversos níveis. Essa atividade, além de ter possibilitado a identificação de um contingente de profissionais disposto a "arregaçar as mangas", de forma até ousada e contundente, sensibilizou as autoridades e a cadeia produtiva brasileira, no sentido de perceber a atividade de Design como economicamente necessária e estrategicamente indispensável.
Mesmo tendo consciência de que, do ponto de vista dos resultados consolidados pelas entidades governamentais, as ações empreendidas pelo programa nacional e seus similares estaduais tenham sido modestas, pode-se constatar que desencadearam o início de um movimento descentralizador, dos diferentes participantes da cadeia produtiva nacional, cuja essência se expressa no reforço das características e habilidades específicas e na manifestação da cultura de cada local, contrapondo-se, mesmo que timidamente, ao traço histórico de conservadorismo manifesto na ênfase até então posta somente na ampliação e no fortalecimento dos centros mais desenvolvidos.

Hoje, mesmo com enormes distorções e simplificações, o Design é uma atividade reconhecida como fundamental para quem procura qualificar seus produtos e torná-los mais competitivos, independente da região onde estejam sendo produzidos. Como exemplos, podemos destacar algumas iniciativas: - o crescimento, o reforço em qualidade e o investimento em Design do pólo moveleiros gaúcho, revelados não só em eventos como a Feira Movelsul, mas também no aumento significativo de
suas exportações, com resultados expressivos para a economia da região e do País; - a qualidade e os aspectos nitidamente regionais percebidos na produção moveleira mineira, que propiciou a organização dos profissionais de Design daquela região com o objetivo de assessorar e aprimorar o produto local; - a criativa e diversificada produção da indústria e dos designers de mobiliário paulistas, que, em função de seu arrojo e expressão formal, apresentam uma nítida característica urbana e cosmopolita com aceitação internacional; - as características culturais, os materiais e as habilidades técnicas que impregnam a pequena e crescente produção moveleira pernambucana, que, por sua originalidade e qualidade, sensibilizou os europeus, na última Feira de Milão. - também em Pernambuco, na região do Agreste, a efetiva participação do Design no fortalecimento do setor de confecção, que leva em conta as habilidades e a tradição do segmento, nas cidades de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, comprovam o citado movimento descentralizador.
Esse movimento, em Pernambuco, é resultado de um plano de identificação dos arranjos produtivos promovido pelo Governo do Estado, que visa a implantação, entre outras, de Centros Tecnológicos.

O projeto, que tem nas habilidades dos municípios e da região em seu entorno a referência básica, baseia-se em três pontos principais: a educação profissional, o estímulo à capacidade empreendedora e a inovação tecnológica, na qual se insere claramente o Design. Com esse intuito, levando em conta as características e habilidades de cada região, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente vem discutindo com as instituições envolvidas nessas identificações e com a Rede Pernambucana de Design um modelo de gestão para os cinco primeiros pólos: o do Gesso, no Araripe, o de Vitivinicultura, em Lagoa Grande, o de Caprino-ovinocultura, em Serra Talhada, o de Laticínios, em Garanhuns e o já citado de Confecções, em Caruaru. Pretende-se estabelecer uma ação focada na solução dos problemas dos diferentes arranjos produtivos e já está definida a implantação de pelo menos um Núcleo de Design, coordenado pela Rede Pernambucana de Design, visando atender as demandas do pólo de confecção de Caruarú. Poderia, ainda, estender-me citando outras ações nas quais as questões relativas a regionalidade estão claramente presentes. Penso, no entanto, que é necessário consignar, a importância do envolvimento de instituições, como a CNI - Confederação Nacional da Indústria, preocupada com a identificação da demanda de Design em todo o país; o SEBRAE, que vem discutindo as nossas características mais identificadoras e "exportáveis" no Projeto Cara Brasileira e a inclusão do Design na assessoria a micro e pequenas empresas; e, mais recentemente, as Redes Estaduais de Design, instaladas em vários estados do País, com seus centros e núcleos voltados para o apoio dos arranjos produtivos de cada uma das regiões.
Penso que o importante nessa abordagem sobre a regionalidade é compreender que vivenciamos um inevitável movimento descentralizador, onde múltiplos e pulverizados centros menores nos apresentam suas criações, com características e habilidades específicas, desenvolvidas com o apoio dos designers locais e que essas contribuições não são melhores, nem piores, do que aquelas de regiões mais desenvolvidas. São apenas diferentes.
Não é possível deixar de perceber a existência de uma efervescente, importante, criativa e inovadora prática em desenvolvimento nas supostas "periferias produtivas" menos dotadas. Considero que, entre todos os envolvidos, o designer é um dos melhores atores dessa transformação e tradutor de cada uma das qualidades e da cultura de cada uma de nossas regiões.

O País possui um incrível e fantástico exército de obstinados que, mesmo muitas vezes isolados em seus redutos e limitados em suas ações, procuram, de forma competente, fazer com que a atividade profissional seja reconhecida e respeitada.
É fundamental que não se analise a questão da regionalidade por um viés regionalista obtuso e coorporativo e se perca a possibilidade de vivenciar o rico e frenético surgimento de novos personagens neste cenário onde o Design se consolida com suas contribuições e competências.

Paulo Oliva é arquiteto e designer, formado pela Universidade de São Paulo em 1974, com especialização em Design Gráfico e de Produto, com atuação profissional e docente desde a década de 1980. Com a OLIVA Design, em Recife, desde 1986, foi a responsável pela criação de marcas e desenvolvimento das linhas de embalagens ganhadores de prêmios na região. Foi Presidente da APD-PE - Associação Profissional dos Designers de Pernambuco, até 2003.

* Arte e Design

O texto vem com o propósito de estimular o pensamento crítico a respeito da influência do contexto histórico, social e político na arte e no design. Indaga de maneira sutil a desvalorização da Arte no mundo contemporâneo em favorecimento da profissão Design, evocando a participação do sentimento humano. Em todo o seu decorrer não aponta para uma verdade absoluta e sim no incentivo a reflexão.

Não querendo impor uma verdade absoluta a respeito do que venha a ser Arte e Design e suas inter-relações, questão está já tão discutida e debatida, apresento nesse texto comparações, ligações, e fatos que ajudam a elucidar a mente do leitor sobre idéia suscitada, para que ele próprio, junto aos seus conhecimentos, reflita e tire as suas próprias conclusões.

Partindo do período de onde acreditam a grande maioria ter nascido à profissão Design, acredita sim que este despertou com a proposta de suprir além das necessidades da Revolução Industrial, a manutenção e a expectativa de como ficaria a arte diante das mudanças e reviravoltas mecânicas.

Se formos parar para analisar, no Art Nouveau, começa a existir a idéia de design atrelada com a arte, devido à oposição que esse movimento fez com a Era industrial. Oposição não no sentido de ressaltar o artesanal, como idealizava William Morris, mas de dar as formas que faltavam nas estruturas esterilizadas e antiestéticas que os produtos fabricados pelas máquinas produziam. Sendo assim, sofre uma forte influência das artes aplicadas e trabalhadas em materiais que condiziam com os produzidos nas grandes indústrias, tais como o ferro e o vidro, alicerçando as bases para a idéia do profissional de design.

Percorrendo um pouco na História da Arte, poderemos perceber que esta, também como o design, serviu a uma necessidade do homem, atrelada sempre as questões políticas, sociais, culturais e financeiras. O design surge nos tempos primitivos assim como a arte e tem sua importância em destaque, quando existe um poder maior, que faz dela uma ferramenta para um determinado fim ou interesse.

O conceito de arte está completamente ligado ao mundo em que o homem vivia, tempos em que não estamos dando conta que se acabou e que pode ser analisado por essa passagem da arte para o design. O homem se apropriou da arte quando sabia que através desta podia envolver, revelar ou até mesmo impor algum tipo de pensamento em outrem e é exatamente isso que o design faz agora. Não existe mais espaço na vida do homem para a arte. Ele está deixando de apreciar o belo sentimental, a sensibilidade do natural, para aderir ao belo funcional, ágil, mecânico e tecnológico e como peça chave disso está o design - o redescobrimos, pois dele agora necessitamos; iremos nos apropriar desse novo mecanismo para atender as expectativas do mundo industrial, capitalista e dos novos ideais tecnológicos.

É possível que a crise existente hoje nas Belas Artes venha daí. Não se sabe mais o que é arte, quem realmente faz arte, se instalações é arte, se arte contemporânea é “arte”...

O estudo da arte e do design dentro da trajetória da história da humanidade, ao meu ver, jamais pode ser visto de forma separada, mesmo que cada um tenha suas características, objetivos e finalidades diferenciadas. É como se estivesse estudando em linhagem contínua, recebendo apenas os reflexos comportamentais da sociedade vigente em cada época.

Logicamente que para maior aprofundamento no assunto, Arte/Design, se faria necessário um estudo separado, mas para que se entenda o processo e os motivos que se tem hoje a respeito desses dois objetos de estudo é preciso olhá-los horizontalmente, e é importante que os alunos tenham essa noção e entendam o quanto eles permanecem o tempo todo interligados.

Feita essa análise é possível ver claramente a situação atual e até mesmo levantar hipóteses a respeito de como se encaminhará, no decorrer do século XXI, essas duas manifestações. É certo que hoje o design se constitui bastante relevante na vida das pessoas, mesmo que a grande maioria não perceba, e o que também não é diferente da arte. O grande problema é que aos poucos, o design, produto dos novos tempos, está tomando em certa medida, o lugar que antes era ocupado às belas artes. Duas coisas podem ocorrer: uma grande manifestação por parte dessa em repúdio ao design, onde ocorrerá a retomada dos valores artísticos ou o paulatino falecimento da arte em favor do design que continuará a se consolidar trazendo diferentes bifurcações no decorrer dos tempos – o mesmo que aconteceu nas artes. Digo isso, pois os valores de ambos já se encontraram, hoje já existem peças de design que tem significância de uma verdadeira obra-de-arte. Da mesma forma que as obras feitas hoje, já não tem o valor das desenvolvidas no impressionismo, por exemplo, considerado o ultimo movimento artístico com mais relevada importância. O que pode ser notado como um marco, pois este antecede a Era industrial e o Art Nouveau.

Estudar, observar e refletir sobre essas questões, analisando-a como um conjunto e não como parte isolada, faz nos sentir vivos e como protagonistas dessa densa história. Como designers somos o fruto de uma nova geração e é dessa forma, assumindo toda a responsabilidade do que como profissionais produzimos, que temos que adotar o nosso ofício, pois amanhã seremos cobrados e responsabilizados por nossas contribuições porque afinal de contas, fazemos parte desse processo.

* Design e Cultura

Por Pedro Inoue

Em 98 trabalhei na Bienal da ADG com a Adélia Borges e depois na comissão de design e tecnologia, com a Priscila Farias, o Gustavo Piqueira e o Marcello Montore.
Bons tempos aqueles. Aprendi bastante porque sempre ouvi os outros falarem.
E aprendi também que chega uma hora que tem que falar. Senão, passa. Design x Cultura Recebi um e-mail da Angela semana passada me sugerindo o tema: design x cultura. Me perguntei o porquê do xis no meio das duas palavras. Seria um xis tipo 'versus'? tipo jogo de futebol? competição? Eu lembro de quando era moleque, no colégio Poço do Visconde, um amigo meu escreveu na árvore com um canivete, Rodrigo S x Ana M - e a tal da Ana não entendeu do que se tratava.
Como anda a sua idéia de cultura atualmente?
"Toda vez que escuto a palavra cultura pego meu talão de cheques" Barbara Kruger Vivo em Londres com um chileno e uma alemã, me acostumei a tomar chá com leite, a tomar chuva na cabeça e vento frio na cara.
Trabalho há quase dois anos com o Jonathan Barnbrook, na Barnbrook studios. Jonathan tem um trabalho altamente cultural e preferiu montar um estúdio de pequeno porte e fazer trabalhos que considera mais interessantes ao invés de montar um mega-esquema-escritório-atrás-do-dinheiro. Isso me fez mudar muito, me fez olhar o design de outra maneira. Acho que viver por aqui, nessa sociedade de consumo onde o coração é o lucro, a minha idéia de cultura anda completamente poluída.
Por esses lados o poder da imagem fica muito claro e chega a limites absurdos e num mundo onde 35 mil crianças morrem de fome e 500 milhões de latas de coca-cola são consumidas diariamente, qualquer idéia de limite é absurda.
Claro que você acha outros grandes agentes de cultura fora dessa confusão toda, morando numa cidade multicultural como essa. Mas que o time da cultura-global-fast-junk-food anda ganhando de lavada é fato.
Pesquisas apontam que somos atingidos por 3 mil propagandas diariamente.
A impressão que tenho é que tudo é manufaturado diretamente para você, no horário nobre, a cores e ao vivo. Qualquer idéia de vanguarda vira o último cartaz da Nike, a cultura popular é usada para vender jeans Levi's e o que chamamos de 'cool' é o último comercial da Ford. Qual a conseqüência disso? Quando não existe mais alternativo.
Quando tudo é "main stream".
Quando tudo que atinge seus olhos não te conta uma história diferente e sim tenta te convencer a consumir mais uma estilo de vida indispensável para que sua existência seja completa. Materialmente e espiritualmente.
"O imperialismo norte-americano está vindo para um país próximo de você. Aguarde." Enquanto na Europa, os movimentos como a Bauhaus, De-Stijl e o Construtivismo buscavam um certo alinhamento com a produção de massa e a política social, a America do Norte fazia do design uma ferramenta eficiente na busca de lucro.
A frase "forma segue função" é substituída por "estilo segue vendas". Todos esses movimentos foram despidos de seus significados e utilizados apenas como estilo visual para vender mais produtos. E isso é presente até hoje em
dia.
A Nike utilizando da máscara de grafite de spray - usada pelos grupos anti-captalistas. Shell gravando comerciais em prol do meio ambiente.
Agregue a imagem. Esqueça o conteúdo. Design = Cultura Eu acredito que design é cultura. Todos criadores e comunicadores são agentes culturais. Tudo que involve criação está criando cultura no mundo atual. A impressão que tenho de Londres é que a linha que divide arte de design é menos delineada.
Tem artista que faz trabalhos de design e vice-versa. Existe muita experimentação no campo de comunicação visual, quase que uma constante re-invenção do meio. A poesia visual e música da Tomato, as colaborações com arquitetos da Designers Republic, exposições temáticas da Why Not Associates. Enxerguei também, novas maneiras de utilizar a comunicação visual para discutir o mundo a nossa volta.
A especialização na comunicação de idéias de uma forma visual é um poder de expressão que atinge centenas e centenas de pessoas. E no geral todos tem essa arma na mão: de poder informar e influenciar. Não acredito que nós - designers - somos os donos da razão, que devemos ditar qual o caminho que todos devem seguir.
Mas que nossa posição é muito preciosa e carrega consigo uma grande responsabilidade. Então cadê a discussão?
"O Design não muda o mundo, pessoas mudam o mundo". Milton Glaser A utilização da comunicação para discutir problemas políticos e sociais parte de cada um. Se você se incomoda ou não com o mundo em que vivemos é algo pessoal.
Na minha opinião não dá pra ficar em cima do muro. Eu não acredito que design seja uma profissão apolítica.
Acho que é a perfeita posição social para inserir discussões. No entanto só enxergo o design cumprindo a função exigida pela mídia: carros que você pode amar demais, de pasta de dente sentimentais e desodorantes sexuais. Qual a mensagem?
A minha vontade de estudar fora do Brasil vinha muito da maneira na qual o design é feito fora do país, da experimentação. Aqui descobri muita coisa sobre design e uma delas é que design não se ensina (conteúdo). Design não é algo que se 'tira' de às seis da tarde quando o expediente acaba ou algo que se 'põe' às nove da manhã quando vai para o trabalho. É algo que vive 24 horas com. Eu sempre me perguntei qual a diferença entre artista e designer.
E é por essa e outras razões que vejo a comunicação muito mais próxima da arte e com um papel muito importante na fabricação da cultura atualmente.
O artista e o designer tem a mesma capacidade de elaborar a "realidade", de tocar na ferida social, de colocar pra fora tudo isso de imaginação que cada um e todos tem. 'Design é um meio, não um fim em si só' Tibor Kalman O design brasileiro é muito influenciado pelo design dos Estados Unidos. Quem me dera que fosse apenas o design(!). Tive duas conversas bem interessantes na sede nova da ADG sobre isso e como o design gráfico brasileiro se posiciona seguindo padrões norte-americanos da profissão.

Design no Brasil é Business. Na minha viagem recente para São Paulo, perguntava pra todo mundo que encontrava, qual o papel social e político do design no Brasil. Poucas pessoas me responderam o seguinte: ele não existe. Fiz duas coisas que me deram um "update" do Brasil desses dois anos que estive fora e elas foram: ver 'Cidade de Deus' do Fernando Meirelles e ouvir o novo disco dos Racionais Mc's, que ao meu ver, é minha única maneira de me aproximar de uma realidade tão distante e tão perto da minha própria. Me assustei.
Se alguém me perguntar por uma resposta, uma solução, eu não tenho, eu não sei. "1% da população brasileira recebe acima de 3 mil reais."
O que me incomoda é a passividade no discurso político e social no campo de design gráfico. Todo mundo faz parte da mesma realidade e tudo que fazemos tem uma conseqüência. A passividade tem sua conseqüência.
A foto não tá bonita. Isso se sabe, isso se vê. O que se ignora? o que se evita? Por isso me incomoda tanto escutar que design social e político não existem no Brasil. Não existem porque não se pode, porque não se quer? O designer não é criador? solucionador de problemas? Então cadê a invenção/ discussão de tantos problemas realmente importantes na nossa vida? Vivemos eternamente como vítimas do sistema ou vamos conseguir elaborar o que não está sendo dito? Um grupo de jovens arrecada uma grana, troca por moedas de um e cinco centavos e dá para os meninos de rua distribuirem nos semáforos para todos os 'tios e tias' com os vidros fechados.

Outro grupo produz carimbos para notas de um real que dizem: Todos tem poder. Colam cartazes com a frase 'pau no Maluf', 'imagem não é nada. fome é foda'. Pintam os mosaicos preto e branco de São Paulo de um quarteirão da Faria Lima de coloridos e escrevem: São Paulo é a tua casa. Imagine se todo estúdio ou agência dedicasse um pouco do seu tempo para causas coletivas/ públicas? Minha idéia não é "Vamos mudar o mundo"!, mas que pelo menos comece a se fazer algo pra balancear mais o ambiente mental que todos fazem parte. "Designers podem fazer uma grande diferença, não apenas porque eles fazem as coisas mais aparentes - isso também ajuda - mas mais importante porque eles são, ou deveriam ser, especializados em colocar a imaginação em prática e estruturar mensagens para serem entendidas por uma enorme audiência." Max Bruinsma O que morro de medo é quando você entra numa sala do terceiro ano de design gráfico em São Paulo com 25 pessoas e pergunta quem faria um out-door para o Collor por cinco mil reais e apenas um se recusa.
O resto nem enxerga qual o problema de colocar o sentimento de lado - de 'ser profissional' - e trabalhar pelas cifras. Apenas pelas cifras. Pedro Inoue é designer gráfico e atualmente trabalha em Londres, com Jonathan Barnbrook. Sempre foi um forte colaborador da ADG.

* O produto e seus significados

Projetar produtos é uma atividade que compreende o planejamento e a concepção de artefatos. Sobre esta definição, Denis (1998, p. 19) comenta que “do ponto de vista antropológico, o design é uma entre diversas atividades projetuais, tais como as artes, o artesanato, a arquitetura, a engenharia e outras que visam a objetivação no seu sentido estrito, ou seja, dar existência concreta e autônoma a idéias subjetivas”. Este autor defende o uso da palavra artefato como resultado do processo de design, pois este termo “... se refere especificamente aos objetos produzidos pelo trabalho humano, em contraposição aos objetos naturais ou acidentais”.

O conjunto de artefatos produzidos e utilizados por um determinado grupo social pode ser caracterizado como sua “cultura material” (Denis, 1998). O papel dos artefatos como elementos dessa cultura material vai além do cumprimento de requisitos funcionais e técnicos, pois envolve componentes simbólicos, psicológicos e afetivos que, por sua vez, não possuem significados fixos ou únicos:
O significado do artefato para o usuário não se reduz ao seu funcionamento e seria mais adequado falar de ‘funções’ do objeto do que de ‘função’, principalmente no que diz respeito à sua inserção em um sistema de produção, circulação e consumo de mercadorias. Se a única função do relógio é a de mostrar a hora, então como distinguir, em termos de funcionalidade, o despertador do relógio de rua, o analógico do digital, o Rolex do Swatch?
Evidentemente, entram em consideração uma série de outras ‘funções’, dentre as quais podemos destacar o contexto de uso, a comodidade, o conforto, o gosto, o prazer, a inserção social e a distinção (Denis, 1998, p. 31).
De acordo com Denis (1998, p. 33, grifos do autor), os artefatos possuem diversos níveis de significados, sendo alguns universais e inerentes: como exemplo ele cita as garrafas, que são feitas para guardar líquidos, e alguns pessoais e volúveis: como o uso de uma determinada garrafa para guardar uma bebida preferida. De qualquer modo, todos os significados que o artefato adquire resultam da intencionalidade humana.
O autor defende que existem duas maneiras básicas de inserir significados aos artefatos: “a atribuição e a apropriação os quais correspondem em linhas gerais aos processos paralelos de produção/distribuição e consumo/uso”. Os significados atribuídos durante a produção e a distribuição, geralmente correspondem à categoria dos universais e inerentes, enquanto que os sig­nificados pessoais e volúveis são resultado da apropriação do artefato nos momentos do consumo e do uso.
O designer age na instância da atribuição de significados aos artefatos, uma vez que seu trabalho está ligado às fases de concepção, produção e distribuição. Ao projetar, o designer pode atribuir significados aos artefatos que vão muito além da funcionalidade. Bonfim (1995), ao falar sobre o artefato como elemento capaz de portar informações sobre o desenvolvimento de uma sociedade, afirma que o mesmo “independente das funções imediatas a que serve, revela algo sobre o próprio objeto, sobre seus usuários e sobre o momento social, político e econômico em que se dá o relacionamento entre eles.” O artefato carrega, também, concepções e valores resultantes da leitura do designer sobre a cultura e a sociedade a que pertence.
A seguir estão elencados alguns tipos de mensagens transmitidas pelos artefatos, segundo Bonfim (1995, p. 88-89):
· sua própria constituição (material, cor, textura, processo de fabricação, tecnologia);
· funções práticas (para que é usado);
· modos de uso (que se estabelecem através do aprendizado e da memorização de estereótipos);
· valores estéticos (percebidos sensorialmente e interpretados segundo juízo de gosto ou da norma vigente);
· significados enquanto signos de uma gramática visual culturalmente estabelecida (uma figura arredondada parece menos agressiva do que outra com ângulos agudos);
· significados ideológicos (ideais políticos e religiosos).
Para explicar este último item, Bonfim (1995, p. 89) faz uma comparação entre dois tipos de bonecas: a Barbie e uma boneca de pano, destas vendidas em feiras de artesanato.
A Barbie é magra, loura e está acompanhada de diversos acessórios como jóias, vestidos, cosméticos, namorado, academia de ginástica, entre outros, que formam a representação de um estilo de vida ideal: “Barbie é um código de informações bem definido e fechado que desconhece o tempo e as fronteiras ou diferenças culturais. É um modo universal, que as crianças incorporam e tentam reproduzir”.
As bonecas de pano, mesmo que produzidas em série, guardam sempre diferenças entre si e não tem nome ou comportamento definido, sua identidade é construída pela imaginação da criança: “a boneca de pano é um conjunto vazio, que só ganha vida através da relação entre sujeito e objeto, que é única para cada indivíduo, de acordo com sua história, sua cultura, sua consciência e inconsciência”.
A atividade de planejar e conceber artefatos envolve a configuração de comportamentos e a atribuição de significados aos objetos de uso cotidiano, portanto o artefato não pode ser encarado como um objeto neutro e isolado de seu contexto de uso. Esta forma de entender o design de produtos modifica o quadro de referência com relação à responsabilidade do profissional frente à sociedade e à sua cultura material.

Moraes (1997, p. 106), referindo-se à sua preocupação com o desenvolvimento de produtos mais adequados ao contexto de uso, sugere que o ser humano deve ser adotado como principal fator de orientação projetual. Para o autor, projetos que utilizam como referência somente a questão estética e as possibilidades produtivas podem apresentar deficiências na interação entre produto e usuário: “certas calculadoras, por exemplo, são festejadamente comparadas a cartões de crédito, mas são frágeis e apresentam uma tipologia de uso inadequada. [...] Sua escala de referência projetual é o bolso da camisa ou a carteira de dinheiro, porém esqueceu-se de que se faz uso deste produto com os dedos das mãos”.
Outra orientação projetual defendida pelo autor é a mudança de enfoque do produto para o resultado, ou seja, o designer deve, em princípio, deixar de pensar no produto em si, voltando a atenção ao contexto e a situação de uso que envolvem o projeto. “Por exemplo, não se deve pensar em uma cadeira, mas no ato de assentar; não se faz necessário pensar no copo, mas no ato de beber. [...] Um projeto, uma vez direcionado por tais enfoques, tem a possibilidade de apresentar soluções mais inovadoras, diferenciadas e, às vezes, inusitadas” (Moraes, 1997, p. 115).

O direcionamento do projeto para a situação de uso do produto é encarado como uma alternativa para a atividade de projetar, potencializando o surgimento de propostas que transcendam os modelos vigentes e incentivando a pluralidade de soluções. Além disso, ao considerar o contexto que envolve o tema proposto, o designer tem a possibilidade de abordar em seu projeto a dimensão sócio-cultural, através do estudo dos aspectos comportamentais que envolvem as relações entre o ser humano e artefato.

Os artefatos produzidos pelo ser humano representam muito mais do que sua própria materialidade, pois sua existência está relacionada às situações vividas pelas pessoas. Através das relações sociais em que estão envolvidos, os artefatos adquirem significados que podem estar relacionados tanto aos aspectos funcionais do produto, quanto aos valores simbólicos a ele atribuídos. Ao projetar um produto, o designer se confronta com questões muito mais amplas do que o binômio criação e produção. Reduzir o discurso do design ao antagonismo entre arte e tecnologia acarreta a ignorância da riqueza de significados e valores que surgem do inter-relacionamento destes dois campos, e que são traduzidos nos produtos que compõem a cultura material da humanidade.

* Demanda, evolução e mercado

Antes dos anos 90, o design era dominado pelas agências de publicidade, e quando o cara criava a identidade visual dele numa dessas empresas já era visando campanha, ou seja, design era um meio e não um fim em si. A idéia da pura identidade empresarial ainda era difusa.
Naquela época também, design era algo trabalhado por profissionais de criação pura e os layouts eram executados por arte-finalistas em suas mesas de trabalho com nanquin, tira linhas, curvas francesas e um monte de outras traquitanas. Ou seja, só uma elite (e põe elite nisso) trabalhava diretamente com o design e o consumia: a elite dos profissionais de criação, em sua maioria com formação ou cursos de extensão no exterior, a elite dos arte-finalistas, pessoas que tinham que aliar seu talento com uma puta capacidade técnica de dominar toda aquela equipamentária e a elite de clientes que pagavam por publicidade.

Nos anos 90 viaram essas maquininhas que estamos usando nesse momento para escrever essas mensagens e trocar informação. Então, a necessidade técnica imensa que o antigo arte-finalista tinha que ter pra trabalhar, caiu. Hoje conheço muitos designers que, se você der um papel e uma caneta na mão deles, não sai absolutamente uma linha boa que seja e ainda assim são puta designers!
O que isso quer dizer? Pessoas que tinham talento para a coisa puderam exercer o ofício, pois não necessitavam mais da habilidade manual (ainda estou falando da arte-final, ok?) e das ferramentas que na época eram caras (é só vocês verem nas papelarias, pra montar um escritório de design a moda antiga gasta-se mais do que comprando um computador), tenham certeza de que muitos de nós não estaríamos nesse lance se não fosse essa "revolução" (não é uma revolução de verdade, por isso vai entre aspas).
Outra consequência é que o profissional de criação pura, fundiu-se com o técnico na hora da execução do trabalho e para os poucos profissionais de criação pura que ainda existem ficam os operadores (o profissional técnico de hoje, que necessita de bem menos formação do que antes, afinal, qualquer um opera Corel ou o que quer que seja, mas uma minoria manipula decentemente uma caneta de nanquin).
Resultado final? Febre.

A febre de design que começou nos anos 90 e está eclodindo até hoje. Eu fiquei espantado porque outro dia vi um desses cadernos de vestibular e vi que a proporção candidato/vaga para as cadeiras de design nas faculdade cresceu imensamente. Quando eu fiz para PV (Programação Visual) na UFRJ era barato de 9 ou 12 candidatos por vaga e hoje bate fácil 30 ou 40 candidatos por vaga. É quase tão popular quanto direito, medicina, publicidade e essas faculdades mais notórias. Como eu disse, muitos bons designers existem hoje graças a esse cenário; designers estes que iriam vender sapatos ou ter qualquer outra profissão em tempos passados, mas nem tudo são flores.

"A tal 'cultura em design' não vai vir de dentro para fora. Essa cultura vai vir de fora pra dentro: o mercado vai perceber o que é bom e o que não."
Esse inchaço de mercado, que trouxe gente boa e gente ruim (normal isso) veio acompanhando a demanda. Ter design passou a ser diferencial, as empresas passaram a procurar esse serviço justamente porque, com os computadores, ele ficou mais viável financeiramente pro pequeno e pro médio empreendimento. Nesse estado inicial da coisa, o importante é ter design, onde design significa que você, empresário, pagou alguém pra fazer uma marca pra ti e ponto final. O resultado é esse que assistimos, coisas boas que antes não seriam viáveis, coisas médias e coisas hediondas feitas muitas vezes por escritórios reconhecidos de design e por aí vai. O bom e o ruim aparecem indiferente da origem.
Vivo falando isso aqui: já vi muito designer "profissa", desses que cagam goma pra sua formação, conceituais e estudos pra no final fazer merda enquanto micreiros despretenciosos, chegam e tem boas sacadas vez ou outra.
Tirando fora o mérito sobre os trabalhos e analizando isso mais como mercado está tudo dentro do normal. Design é um estudo que não tem nem um século direito; estourou junto com a sociedade imagética que vivemos hoje em dia e nesse caos de informação rola de tudo. Mas os fatos são que hoje em dia é mais fácil fazer design do que antes e é mais barato consumir design do que antes, isso faz com que o mercado consuma mais design do que antes e tenha mais profissionais que antes.
Olhando pra fente e comparando o fenômeno com outros do mesmo tipo o que podemos especular é: uma hora o mercado vai saturar.
Todas as empresas já terão "design"; todo mundo terá uma identidade visual projetada por um designer, indiferente se custou R$ 1,99 ou mil dinheiros, mas terá. Aí vão surgir novos diferenciais que não apenas o design. Na minha opinião, a tendência é que o diferencial passe a ser o "bom design", onde "bom" se lê como funcional. Os empresários, que são os nossos consumidores, vão poder comparar, calcular o custo/benefício e chegar a conclusões do tipo "é: vale a pena pagar bem por uma identidade porque essa que eu fiz com o meu sobrinho não está dando tanto resultado quanto aquela que fulano fez com aquele bom rapaz que estudou design".
Antes disso, tentar convencer um empresário com papos conceituais não funciona simplesmente porque não é a linguagem dos caras.
Tem que rolar números para chegar e argumentar e esses números ainda vão acontecer. O que se tem hoje é pouco e se aplica muito mais a grandes projetos de brand marketing. Se eu chegar com isso pra um micro empresário, por exemplo, ele na hora vai falar algo como "eu não sou a Shell" e ele estará certo mas eu ainda não tenho como provar a funcionalidade do design em pequena e média escala, mas vou poder.
Não sei se ficou claro mas penso em algo assim, a tal "cultura em design" não vai vir de dentro para fora, com um grupo de designers messiânicos que vão peregrinar pelo mundo pregando como design é bom, engorda e faz crescer. Creio que essa cultura vai vir de fora pra dentro, ou seja, o mercado vai perceber o que é bom e o que não é e só vai ficar aqueles que realmente se preocupam com esse tal design, que o estudam, coisa e tal. Para o mercado perceber isso vai ter que ter a fase que passamos agora, ela está aí para gerar os parâmetros que vão reger o mercado daqui a um tempo.
Sei lá, algo assim...Dúvida e discordâncias por favor.

Romulo Marques

* A importância do design para as empresas e indústrias...o valor do design.

"Na Sony, supomos que todos os produtos de nossos concorrentes terão basicamente a mesma tecnologia, o mesmo preço, o mesmo desempenho e as mesmas características.
O design é a única coisa que diferencia um produto do outro no mercado."Norio Ohga, presidente e CEO, Sony
"A diferença tecnológica entre produtos similares, de diferentes fabricantes tende cada vez mais a desaparecer. Um sistema de refrigeração não é muito melhor que o outro. Relógios de um fabricante funcionam de maneira tão precisa quanto a de seu concorrente. Assim, o consumidor passa a se nortear pela marca, pelo preço e pelo design."Gazeta Mercantil, 18/02/1999

O designer é o profissional capacitado a aumentar a competitividade das empresas, criando nichos próprios e definindo, através de soluções que visem à funcionalidade, qualidade, segurança, conforto e imagem diferenciada de produtos e serviços."Marcello Alencar, então governador do Estado do Rio de Janeiro, sobre o Programa Brasileiro de Design
Até o final dos anos 80, era bastante improvável encontrar produtos brasileiros nos principais centros comerciais da Europa e Estados Unidos. Tampouco se imaginaria que, 20 anos depois, italianos e americanos comprariam a peso de ouro móveis assinados pelos irmãos Campana, ou que os adeptos dos automóveis compactos se curvariam aos encantos do Fox, um carro totalmente desenvolvido nos pátios da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. E que essa agradável surpresa se repetiria, ainda, em outras áreas.
A falta de concorrência dos produtos brasileiros com similares estrangeiros, durante muitas décadas, levou a indústria nacional a permanecer numa situação confortável, até que a política econômica abrisse o nosso mercado aos produtos importados. A saída encontrada pelas empresas brasileiras para enfrentar os produtos importados nos anos 90 e tentar ampliar as divisas do país por meio da exportação foi investir em design.

O objetivo era desenvolver produtos funcionais, de qualidade, em condições de competir com os concorrentes estrangeiros.
O objetivo era desenvolver produtos funcionais, de qualidade, em condições de competir com os concorrentes estrangeiros.
Um exercício difícil, já que a cultura da cópia era o meio mais barato para se montar uma linha de produtos.
Com isso, o design passou a receber atenção especial dos empresários brasileiros, pois não conseguiam mais concorrer com igualdade de condições com os produtos estrangeiros disponibilizados no mercado. Era notória a diferença de satisfação que os consumidores experimentavam quanto à estética, a qualidade, os baixos preços e a durabilidade.
Começava a se desenhar, no Brasil, um cenário que a cada dia é confirmado e apontado como tendência: o design, profissão, que surgiu no fim do século XIX, com o processo de industrialização da Europa e dos Estados Unidos, é hoje um dos maiores diferenciais de competitividade industrial.

Cada vez mais competitivo, o mercado está gerando um número excessivo de produtos semelhantes, com a mesma tecnologia, o mesmo preço, o mesmo desempenho e as mesmas características. Essa avalanche de opções acaba confundindo o consumidor que tem dificuldade em perceber essas diferenças, e em atribuir a elas o seu devido valor.
Desse modo, de maneira crescente, muitas indústrias e firmas utilizam o design como forma de se diferenciar das demais.

Atualmente, o design se destaca como um dos principais fatores para o sucesso de uma empresa, desde o desenvolvimento de produtos e serviços até sua comercialização, por meio da otimização de custos, embalagens, material promocional, padrões estéticos, identidade visual, adequação de materiais, fabricação e ergonomia. Além disso, também é um fator essencial de estratégia de planejamento, produção e marketing.

O design de embalagem e as estratégias de branding passaram a ser alguns dos grandes diferenciais de um produto ao criarem o impacto visual necessário para a sua identificação no ponto-de-venda. O design de embalagem não apenas atrai o consumidor; ele também estabelece um contato emocional com este.

O design tem também uma enorme importância na gestão. Valorizar o design é garantir competitividade ao produto e desenvolvimento à empresa, desde que realizado por profissionais experientes, que saibam adequar recursos da empresa, necessidades do mercado e metas a serem alcançadas.

A fabricação de objetos de design requer investimentos e ainda são poucas as empresas que pensam em uma Gestão do Design. Assim, o grande desafio do profissional é conscientizar o empresário de que um objeto sem design é um produto de risco. O design agrega valor ao produto em termos de estética, ergonomia, conforto e funcionalidade, além de ser um elemento muito importante na racionalização da produção. O designer, no contexto do mercado globalizado, deve estar apto a atuar com visão estratégica, contribuindo para aumentar a competitividade do produto brasileiro.
A indústria brasileira, por exemplo, busca ampliar seu mercado interno e conquistar o externo. Para que ela possa se colocar em condições de disputar o mercado de consumo com indústrias estrangeiras, faz-se imprescindível que focalize sua atenção na racionalização da produção e conseqüente redução do custo de seus produtos.
Cabe ao designer mostrar a importância e as possibilidades de se fazer do design uma ferramenta de gestão empresarial e como inovação, atuando em todas as etapas do processo e não só no final.
Além disso, é pouco provável que o designer, ao seguir toda a metodologia de desenvolvimento de produtos que, entre outras questões, considera: a problematização, o estudo da tarefa, os requisitos e restrições projetuais, entre outras questões e sistemas, os materiais, os processos, a semiótica e o mercado, desenvolva um produto menos competitivo do que aquele empresário que considere, apenas, alguns fatores.

Estudos realizados pela CNI - Confederação Nacional das Indústrias indicam que 75% das empresas que investiram recentemente em design registraram aumentos em suas vendas, sendo que 41% destas empresas também conseguiram reduzir os seus custos.
Desenvolver um produto sem a participação de um designer pode, muitas vezes, envolver menos custos, mas é um enorme risco. Quando o produto é lançado no mercado é que se evidencia o grande diferencial: os consumidores percebem que o produto não satisfaz e a sua reação é não comprar. Com isso, os volumes de venda não atingem patamares satisfatórios, gerando prejuízos.
É importante que o empresariado tenha consciência de que as suas decisões de gastar pouco com o desenvolvimento de produtos, pode levá-lo a gerar grandes prejuízos mais adiante.
O custo de se contratar o trabalho de um bom profissional de design é facilmente absorvido diante dos bons resultados que a empresa experimenta ao longo da vida útil do produto.
Segundo o Cláudio Magalhães, para ser usado de modo estratégico, o design deve estar integrado e participar das definições estratégicas, a partir de nível decisório mais alto e integrado com todas as áreas relevantes. O design estratégico se materializa quando o importante é desenvolver o produto certo - eficácia do processo de design e não somente desenvolver corretamente o produto - eficiência no processo de design.

No design estratégico, a forma segue primeiramente a função de comunicar. É importante que os consumidores entendam que aquele produto fornecerá os benefícios desejados, sejam eles oferecidos por funções práticas, estéticas ou por funções simbólicas. Sendo assim, para um design estratégico, a forma segue a mensagem.
A linha de bons produtos de uma empresa garante sua sobrevivência. Mas, o que podemos conceituar como sendo um bom produto? Sob o ponto de vista comercial, o bom produto é aquele que se vende em quantidades suficientes para cobrir os custos fixos e variáveis e ainda gerar lucro que garanta a manutenção e o desenvolvimento da empresa.
Gerenciar a área de desenvolvimento de produtos é uma tarefa desafiadora que envolve inúmeros aspectos: design; mercado; produção; custos; concorrência; novas tecnologias; novos materiais e processos de fabricação; ergonomia, engenharia de produção e muitos outros. Esse é um aspecto que, há algum tempo, estão incorporados às grandes corporações e as marcas de alta visibilidade, que investem em design e obtêm resultados expressivos na conquista da preferência do consumidor.
Mais recentemente, as pequenas e médias empresas também perceberam que podem e devem investir em design para serem competitivas. A média ainda é baixa, entre 1% e 5% da receita líquida, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas já revela resultados. Mais do que isso, viram que design não é um serviço de luxo, ao contrário, trata-se de um serviço altamente especializado, com uma ótima relação custo x benefício e que pode ser facilmente incorporado ao seu cotidiano.
Esses mesmo estudos realizados pela CNI indicam que 75% das empresas que investiram recentemente em design registraram aumentos em suas vendas, sendo que 41% destas empresas também conseguiram reduzir os seus custos. O mais importante é que não houve registro de nenhuma empresa que tenha investido em design e que tenha sentido queda nas vendas.
Seja para uma empresa de grande, médio ou pequeno portes, no ponto-de-venda todos têm acesso ao consumidor e aquela que investe em design tem mais condições de se destacar e se tornar uma marca vencedora. Um design bem-feito aumenta a utilidade e o valor de um produto, reduz custos com matéria-prima e produção, além de ampliar a interação com o usuário e realçar a estética.

Recentemente, o Sebrae selecionou o design como uma das áreas prioritárias para sua atuação no universo das micro e pequenas empresas, elaborando um programa que visa elevar a competitividade das micro e pequenas empresas no mercado nacional, contribuindo também para promover sua participação nas exportações por meio da utilização do design como elemento de agregação de valor em produtos e serviços.
Vencendo a batalha da inovação e da diferenciação, o design cria uma personalidade capaz de conquistar a fidelidade do consumidor.
É preciso, apenas, que o empresário brasileiro, em sua grande maioria, visualize que está diante de tempos novos.
Tempos de abertura, onde o consumidor se mostra mais exigente, reivindicando bens e serviços que atendam a seus anseios. O design se encaixa muito bem nessa questão, atuando como fator de competitividade. Design é o segredo. E os empresários que não estiverem sensíveis para estas questões devem ficar atentos em momento futuro, porque se eles não se modernizarem, se não procurarem processos mais adequados, ficarão no passado, não conseguirão competir com seus concorrentes.

* O que faz a diferença.

Ferramenta indispensável no desenvolvimento industrial do produto, fator de qualidade e competitividade, instrumento de marketing, elemento estratégico na exportação e, sem dúvida, uma forma eficiente de sedução do consumidor.
Assim é o design, cuja força e vantagens podem constituir a diferença entre o sucesso e o fracasso de um produto ou até mesmo de uma empresa.

Ainda falta muito para se chegar ao estágio ideal. Apesar dos progressos alcançados na disseminação dos conceitos do design e da necessidade de sua aplicação no país, o professor do Centro para a Ciência e Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba, Luiz Eduardo Cid Guimarães, entende que essa ferramenta ainda não foi efetivamente incorporada ao processo produtivo da indústria brasileira.

"Nem sempre empresários e gerentes consideram o design como uma atividade fundamental.
Há quem ache mais barato copiar ou fabricar sob licença do que contratar desenhistas profissionais.
"Essas pessoas provavelmente não conhecem a experiência dos empresários e empresas que acreditaram e investiram no design como técnica de criação, estratégia de venda e ferramenta de produção, transformando-se em líderes dos setores em que atuam e alcançando rentabilidade garantida para os recursos investidos.
Empresas como a Natura, que ao criar uma linha de cosméticos para mamães e bebês, inédita na

América do Sul, buscou o apoio do design para enfatizar a delicadeza do toque entre mãe e filho. Solução criada pela designer Elaine Bassaco: embalagens com formas arredondadas, sem cantos ou arestas, totalmente diferenciadas das demais que havia no mercado. Hoje, os produtos da linha são exportados para Chile, Argentina, Bolívia e Perú. As vendas cresceram 53% entre 94 e 97 e a autora ganhou um importante prêmio internacional.
"Toda empresa tem que ter hoje três preocupações: marketing, assistência ao consumidor e design", sustenta Newton Gama, gerente geral de Design da Multibrás, fabricante dos eletrodomésticos Consul e Brastemp.
Para ele, o design é a ferramenta chave no desenvolvimento industrial de um produto e a garantia de que estará de fato focado na cultura do consumidor a que se destina: "Afinal, ninguém vai conseguir fazer com que o japonês deixe de comer com palitinhos ou que o gaúcho deixe de tomar chimarrão" - diz Newton Gama.

No vocabulário inglês, design é a palavra que define ações como desenhar, planejar, projetar e até destinar.

No vocabulário da moderna administração empresarial, abrange a criação de produtos de real interesse para o consumidor, melhor aproveitamento no uso da matéria-prima, manuseio mais adequado do produto, racionalidade de utilização da mão-de-obra e do espaço físico necessário para a produção e, inquestionavelmente, forma eficaz de sedução do consumidor.
Hoje, porém, na economia imposta pela globalização, e independentemente de traduções ou interpretações, o design ganhou uma definição mais prática: é a ferramenta de trabalho que ajuda a reduzir custos, a aumentar as vendas e, conseqüentemente, a garantir retorno satisfatório sobre o capital investido.
"E é uma ferramenta de trabalho de Primeiro Mundo.

Quem não usa, pode até permanecer no mercado, mas terá dificuldades.
Agora que acabou o tempo da lentidão e do acomodamento, para crescer é preciso ser rápido e criativo", ensina o gerente de Marketing da Brinquedos Bandeirante, de São Paulo, Ricardo Pucci.
Fator estratégicoAtentando para essa nova realidade, em novembro de 1995 o governo lançou o Programa Brasileiro do Design, com a finalidade de estabelecer um conjunto de ações indutoras da modernização industrial e tecnológica através do design, e com o objetivo de contribuir para o incremento da qualidade e da competitividade dos bens e serviços produzidos no Brasil.

O programa definia o design como um fator estratégico para elevar as exportações, por garantir a fabricação de produtos customizados, de maior valor agregado e com identidade própria, "diferenciais indispensáveis para a projeção da Marca Brasil".
Passados quatro anos, ainda não existem dados que permitam avaliar, em separado, a eficiência do design no desenvolvimento da indústria, ou mesmo nas exportações de produtos brasileiros. Mas, segundo o secretário executivo da Abimóvel, Eduardo Lima, é um fato que, pelo menos no caso da indústria de móveis, a utilização do design num produto pode agregar até sete vezes o seu valor de mercado.
No sentido inverso, um bom design quase sempre resulta em economia de matéria-prima - portanto em redução de custos -, em maior velocidade na produção e, conseqüentemente, em menor preço.
Foi o que aconteceu quando a M.
Agostini, fabricante de garrafas térmicas e afins, começou a se sentir incomodada com os preços mais baixos da concorrência.
Chamados a criar um produto mais competitivo, os designers Guto Índio da Costa e Augusto Steibel começaram por reduzir o número de componentes da nova linha, o que aumentou sua durabilidade e tomou mais fácil o manuseio.
A montagem na fábrica se tornou mais simples, rápida e econômica, com reflexo decisivo no preço final.
Ostentando formas mais modernas e batizada de Aladim Futura, a nova linha ganhou o Prêmio Design Casa Brasileira e o Prêmio Ecodesign.
E, o mais importante, em um ano 2,2% das garrafas térmicas comercializadas no país já pertenciam à nova linha.
Evidentemente, não basta apenas fazer um produto com design atraente. "Sem design não se vende nada.
Ele é a forma mais eficaz de convencer o consumidor. Mas essa conquista não pode ser apenas estética.

O design não é apenas uma técnica de se tornar um produto mais bonito", adverte Klaus Jahnke, gerente de estilo de veículos comerciais da Mercedes-Benz do Brasil.
Como acontece na Mercedes-Benz, o design é extremamente valorizado nas empresas estrangeiras.
Todas as fábricas da montadora alemã, aqui e em outros países, dispõem de departamentos de design. Aliás, falar de indústria automobilística é falar de design, sem o qual ela provavelmente não existiria.
E nem a Volkswagen teria produzido o Gol, o carro mais vendido na história dessa montadora no Brasil.
Mas não é preciso fabricar carros para valorizar os profissionais do design.

A Herman Miller, empresa americana de móveis com representação comercial no Brasil, mantém um departamento de tecnologia com mais de duzentos designers.
"Se examinarmos o papel do design em todo o mundo e nos detivermos em uma crítica dos produtos importados pelo Brasil, veremos que estes se vendem não por si mesmos e nem por sua qualidade, mas pela sua forma e apresentação'', afirma o advogado com pós-graduação em administração de empresas Fábio Luiz Marinho, diretor do SENAISP, Serviço Nacional da Indústria. Ele chama atenção para o papel da tradição de alguns países como a Itália, o Japão e a Alemanha, que conseguiram firmar a apresentação dos seus produtos e os respectivos aspectos funcionais que costumam introduzir pelo design.
É claro que isso não passou despercebido a boa parte dos industriais brasileiros, explica o empresário Osvaldo Douat, presidente do Conselho Temático de Integração Internacional da CNI. Ele diz que desde 1990, com a abertura do mercado, as indústrias daqui começaram a entender a importância do design como forma de diversificar a produção e desenvolver produtos diferenciados, de acordo com as exigências e expectativas do consumidor.
Mas observa que essas empresas mais agressivas ainda são em pequeno número.
"A maioria ainda considera o design uma atividade cosmética, complicadora e onerosa.
Muitas preferem investir em táticas reativas, reduzindo custos e melhorando a qualidade dos produtos, mas sem investir em práticas agregadoras de valor", constata o empresário.

Nos anos 50A utilização do design como forma eficiente de evolução da indústria chegou ao Brasil nos anos 50, com a criação do primeiro curso de desenho industrial no Instituto de Arte Contemporânea no Museu de Arte de São Paulo. Em 62, foi criada a Escola Superior de Desenho Industrial, o mais antigo curso de design de que se tem notícia na América Latina.

Nos anos 70, conta Luiz Eduardo Cid Guimarães, a FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, criou um núcleo de desenho industrial para promover o design dentro das indústrias e de instituições governamentais. E nos anos 80, surgiram vários laboratórios de desenvolvimento de produtos.Mas foi só a partir de 95, com a criação do Programa Brasileiro de Design, que o Brasil começou realmente a ter uma política efetiva no setor.
Hoje, existem pelo menos 45 escolas especializadas no país, com cursos que duram quatro anos. A partir do terceiro ano, o futuro designer deve escolher: ou segue pelo design gráfico, que cuida da imagem corporativa da empresa, ou vai para o design de produto, que é a criação de móveis, automóveis, torneiras etc. O artista plástico Gilberto Salvador lembra que um simples compact disc serve para mostrar como o design pode estar presente nos objetos mais comuns: a caixa do CD é o design de produto; a capa ou o folheto interno resultam do design gráfico.
Atualmente, essas duas formas tradicionais já admitem uma série de variações.
O design ambiental, por exemplo, trabalha com a utilização de matérias que não resultem na degradação do meio ambiente, evitem o desperdício, permitam reciclagem etc.
Em São Paulo, o Sebrae tem promovido reuniões com empresários - notadamente os fabricantes de móveis - para passar a eles informações sobre a importância do design como ferramenta de criação e para esclarecer sobre matérias-primas em extinção ou que possam trazer problemas para o meio ambiente.

A preocupação, segundo Paulo Sérgio Franzosi, consultor do Sebrae, é levar para dentro de cada pequena e média empresa uma noção abrangente de que design implica preocupação com a estética e com o conforto, utilização de novas matérias-primas, melhor aproveitamento para o produto e ponto de partida para a utilização de novas técnicas de venda.Uma forma em pleno desenvolvimento é o webdesign, que consiste na criação de páginas e sites da intemet, e do chamado "papel de parede" (fundos de tela de computador).

Renata Jameleiro, webdesigner da Globalpartner, de São Paulo, admite que esse mercado está crescendo, mas ressalva que poucos empresários se deram conta da mídia eficiente e barata chamada intemet.
Ela cita um exemplo: a Pousada das Meninas, na Ilha do Mel, no Paraná, investiu R$ 200 na compra de espaço no provedor, R$ 50 no aluguel mensal e R$ 1.500 na criação e produção de um site com nove páginas. E o que aconteceu?
"Estamos recebendo mais hóspedes do que nunca, e a maior parte deles fez reserva pela Internet, testemunha Susi Albino, proprietária da pousada.

A visão do todoDuas outras linhas de atuação muito comuns são o design de vitrinas e o design cênico - criação de ambientes para teatro, cinema, televisão, shows, congressos e outros eventos. Mas é mesmo na indústria que o design afirma toda a sua importância.
"A maioria das pessoas acha que o design é sinônimo de peça exclusiva, com preço valorizado. Mas ele não é só desenho, é a visão do produto como um todo.
É racionalizar, otimizar, encontrar a estética ideal de um produto para o seu consumidor.
Foi com esta mentalidade, através do design, que nós revolucionamos o mercado de móveis no Brasil, explica Claudiomar Verza, um dos sócios da Universum, fábrica de móveis instalada na cidade de Antônio Prado, interior do Rio Grande Sul. A empresa venceu o Prêmio CNI José

Mindlin de Gestão do Design de 98, na categoria empresa de pequeno porte.
Verza recorda que quando a Universum começou, em 1984, o mercado era viciado, sem variações, com poucos modelos, o que deixava o consumidor quase sem opções. Em 88, numa parceria com o designer Alceu Bonfim, de Curitiba, que havia estagiado na Inglaterra, a fábrica lançou o primeiro móvel totalmente projetado, um rack para áudio e vídeo com prateleiras deslizantes, vidro e molduras.Vendeu 100 mil peças em dois anos. Em 89, lançou, também com grande sucesso, a primeira estante assimétrica, com um lado maior que o outro.

Mais recentemente, foi às casas dos consumidores para ver que tipo de móveis eles usavam e como se serviam deles no dia-a-dia.
Feita em cinco grandes cidades do país, a pesquisa permitiu descobrir que nem sempre o comprador utiliza o móvel para a função idealizada pelo fabricante. A indústria criou então um jogo de 30 módulos - a linha Holis - que formam, a critério do comprador, ambientes de salas de jantar, estar, escritório e até de banheiro.

O lançamento ganhou o Prêmio CNI. "Esse foi um produto da nossa filosofia de design, como todos os outros sucessos de nossa linha de produção" comemora Claudiomar Verza.
Embora ainda não na escala desejável, a evolução do processo industrial do país vem revelando casos parecidos com o da Universum. Em alguns setores o design alcançou níveis de excelência e eficiência iguais ou até superiores aos dos países mais desenvolvidos. A indústria cerâmica, por exemplo, tem se beneficiado enormemente de sua utilização - caso da Cecrisa, indústria de revestimentos que ampliou significativamente sua participação no mercado externo desde que criou o departamento de design.
Também os sapatos de fabricação brasileira já conseguem penetrar em mercados impensáveis anteriormente, como Itália, Espanha e Argentina. Isso se tornou possível porque, a partir da utilização dos conceitos de design, não só as linhas estéticas foram modernizadas, mas a indústria passou a utilizar maior variação de tipos de couros, selecionados segundo as condições de criação do animal e de acordo com a estação do ano em que o calçado estará sendo usado.
Sobrevivência

Na indústria de brinquedos, talvez mais do que em qualquer outro setor, a evolução vem viabilizando a própria sobrevivência das empresas. Com o advento da agressiva concorrência dos brinquedos importados (principalmente da Ásia, de onde chegam modernos e baratíssimos), quem apostou no design nacional conseguiu superar as dificuldades e alcançar a liderança do mercado. Já quem se intimidou e não confiou na competência dos designers brasileiros caiu dos primeiros lugares, deixou de criar novos produtos, perdeu faturamento e fechou linhas de produção.Há muitas outras situações em que a evolução do design vem significando a diferença entre ficar ou sair do mercado.
A Amsterdam Sauer, por exemplo, atravessou incólume as várias crises econômicas brasileiras de 1996 para cá, em boa parte graças à sua política de valorizar o design nacional. Há um setor, porém, em que o design se revela mais vigorosamente como componente fundamental do processo de produção: o dos eletrodomésticos.
Veja-se o caso dos refrigeradores: eles são o tipo de produto que precisa ser bonito, durável, prático e sobretudo eficiente para o consumidor a que se destina. Por isso, não adianta copiar e lançar aqui aquele refrigerador campeão de vendas nos Estados Unidos, ou o modelo da preferência do consumidor argentino.
A partir dessa compreensão, os fabricantes brasileiros puderam enfrentar com sucesso a invasão dos refrigeradores de porta dupla e das máquinas automáticas de produzir gelo, após a abertura do mercado. Apesar do sucesso inicial, os designers brasileiros logo demonstraram que tais produtos eram inadequados às necessidades do consumidor nacional. Aqui não se consome tanto gelo e nem as garrafas de refrigerantes são tão grandes, dispensando portanto prateleiras muito largas. Com suas linhas mais arrojadas e cores mais fortes, os refrigeradores brasileiros logo reconquistaram as posições perdidas no mercado.

Desta forma, o design está em tudo que nos cerca - da arquitetura ao aparelho de barba, do vidro de perfume ao cartão que se manda para a mulher amada. Design, como hoje se impõe em escala universal, é planejamento, inventividade, criatividade. "Não estamos num negócio de desenho" afirma o designer Lincoln Seragini.
"Estamos num negócio muito maior que é construir negócios." Quem não acreditar nisso corre o risco de repetir o fiasco daquele presidente da IBM que desprezou a inusitada proposta para a produção de microprocessadores e microcomputadores, e dispensou um rapaz chamado Bill Cates com a frase: "Nós não fazemos brinquedos, fazemos computadores".
Lições de sucesso Uma das virtudes do Prêmio CNI José Mindlin Gestão do Design tem sido a de colocar em evidência nacional o sucesso das empresas que valorizam a utilização do design em seus processos produtivos. "Um prêmio como esse representa a melhor divulgação para uma idéia ou um produto, pois garante credibilidade sem nenhum custo para a criação", afirma o designer José Carlos Bomancini.

Para Claudiomar Verza, sócio-diretor da Universum do Brasil, conquistar o Prêmio CNI representa a satisfação de constatar que as metas instituídas para a empresa estavam corretas e que, além de saber aonde ir, a empresa está chegando lá."Este é um prêmio que só as empresas que utilizam tecnologia de Primeiro Mundo podem ganhar", orgulhasse Ricardo Pucci, gerente de Marketing da Brinquedos Bandeirante, de São Paulo.

Fundada em 1952, as primeiras preocupações da empresa com o assunto datam daqueles tempos, ainda que então se manifestassem de modo rudimentar e não exigissem maiores investimentos. Apenas quatro pessoas cuidavam da área, da concepção até o produto final.
Hoje, além de manter 15 profissionais próprios, ela ainda trabalha com uma equipe terceirizada. Cerca de 8% do faturamento bruto são investidos em design, promoção e propaganda.
"Nossa empresa leva uma vantagem em relação aos concorrentes, pois aqui toda a diretoria pensa e age através do marketing", revela Ricardo Pucci, gerente de Markefing da empresa, que também faz questão de frisar: "Quem não tem o seu próprio design não tem personalidade.

E empresa que não tem personalidade não sobrevive".
Um caso típico da atuação da área de design dentro da fábrica é o próximo lançamento da Bandeirante: a primeira casa de bonecas com design brasileiro. Até aqui, as casas de bonecas produzidas no Brasil seguiam o padrão neoclássico da arquitetura americana.
Em estilo colonial, a nova casa de bonecas vai ser lançada em outubro como resultado de pesquisas feitas nas cidades de Ouro Preto e Tiradentes, e em desenhos da época. Em 1998, a Bandeirante foi finalista do Prêmio CNI José Mindlin Gestão do Design, na categoria empresa de médio porte.Outro caso ilustrativo é o da Multibrás, líder de mercado na América Latina com suas marcas Consul e Brastemp.

Como informa o gerente geral de Design, Newton Gama, esta é a única empresa que dá ao design um status de divisão. Emprega 15 profissionais da área e investe cerca de US$ 1,5 milhão por ano. Gama dá seu testemunho da força do design citando a linha de ar-condicionado da Consul. Dez anos atrás, esse segmento da empresa era um dos últimos em vendas no país. Naquela época, os aparelhos eram convencionais, com gabinetes não-coloridos, e todos ostentavam um invariável painel imitando madeira. Foi então que a Consul decidiu criar o air matic, com linhas arrojadas, estética moderna e cores metálicas.

"Foi provavelmente o nosso maior sucesso de vendas", conta o gerente, ressaltando que o resultado transformou a Consul em líder do mercado de ar-condicionado. Muitos outros sucessos vieram depois, tanto assim que a Multibrás ganhou o Prêmio CNI José Mindlin Gestão do Design na sua primeira edição, em 1997, na categoria empresa de grande porte.
Também nessa categoria, a Mercedes-Benz do Brasil ganhou o mesmo prêmio na edição do ano passado. "Para nós, o design é a tradução da identidade da nossa marca: quando um produto nosso passa pelas ruas, ou nas estradas, as pessoas sabem que ali vai um Mercedes" orgulha-se Klaus Jahnke, gerente de estilo de veículos comerciais, que comanda uma equipe de 29 profissionais de design.
É claro que nem todos os projetos se transformam em produtos reais. Jahnke recorda que em 92 ele e sua equipe projetaram e construíram o protótipo de uma picape compacta, com formas arrojadas e tecnologia moderna. Apesar do entusiasmo dos projetistas, a montadora preferiu não arriscar.

Ainda hoje o protótipo pode ser encontrado no pátio da fábrica de São Bernardo do Campo, coberto por uma lona. Pouca gente sabe direito do que se trata.